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Futsalportugal.comBy: Filipa Agrely
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I Parte – Modelo de jogo e UEFA CUP“Adoro jogar com os meninos e estou feliz quando o posso fazer”Como é que o Zego se define como treinador?Eu gosto de formar treinadores, jogadores. Adoro jogar com os “meninos” (os mais jovens) e estou feliz quando o posso fazer. Gosto muito da formação.
Para mim os profissionais são meninos com responsabilidades, que lutam por vitórias, têm os seus sonhos, e fico muito feliz quando tenho possibilidade de vê-los a concretizar muitos desses sonhos.
Quais as bases de jogo que vai implementar no Benfica?Basicamente movimento, melhoria técnica. E dar ao Alípio o apoio de que ele necessita.
Ajudar todos e buscar gente para ajudar os mais jovens. O principal é incutir nos jovens espírito de entreajuda, de disponibilizar algum tempo para os ouvir, dizer-lhes o que fazer de modo a serem bem-educados desportivamente e se tornarem cada vez mais seguros enquanto jogadores. Uma equipa para ser de alto nível tem de ter fair-play, não basta ser profissional.
Como é que num mês vai transformar um conjunto de bons jogadores numa grande equipa?Vou tentar colmatar algumas falhas. Não é todo o tempo do mundo mas dá para fazer alguma coisa, visto possuirmos uma equipa com qualidade. Dá para melhorar.
O objectivo é ficar em primeiro lugar na 2ª Fase da UEFA Futsal Cup para depois ganhar tempo para continuar treinando, para estar ainda melhor.
Na UEFA Cup, o nível técnico de todos os adversários é muito próximo, é uma questão dos atletas se aplicarem nos treinos, correrem, ouvirem o que eu e o Alípio temos para dizer. A qualidade de treino é fundamental.
“Jogadores como o Costa têm o dom de jogarem bem, jogarem para os outros”Com o Boomerang (dia 24, terça-feira, às 21h no Pavilhão Paz e Amizade) já poderemos ver um “cheirinho” do novo Benfica?Penso que sim. Uma equipa nova, como a do Benfica, vai melhorando durante a competição. O regresso do Pedro Costa, que está a voltar ao seu melhor nível, vai contribuir para uma melhoria da equipa. Há também jogadores que vieram há pouco tempo e que de treino para treino estão a se integrar no modelo de jogo.
Jogadores com as características do Costa têm o dom de - para além de quando estão bem, jogarem bem - jogarem para os outros, o que faz com que estes também melhorem o seu potencial.
Acha que o Benfica tem hipóteses de superar os adversários na UEFA Futsal Cup?Tenho esperança. São 3 jogos, sendo o primeiro, com o Prato (campeão italiano), o mais difícil. Tenho fé que venceremos esta etapa.
Qual a equipa mais forte, desta competição?Das três equipas, a que conheço melhor é o Prato, que o ano passado estive a ajudar. O Prato é uma equipa já formada, com 2/3 anos. O ponto forte é o seu conjunto. Individualmente, estará ao mesmo nível que o Benfica, enquanto que colectivamente são ligeiramente superiores.
Devido ao factor casa e melhorando algumas coisas, o Benfica poderá vencer a equipa italiana e, claro, também as outras equipas.
Do pouco que vi do Charleroi (equipa belga) jogar, creio que não está ao nível da equipa italiana, e será para nós um jogo mais acessível. Esta equipa também possui alguns jogadores brasileiros no seu plantel.
A equipa croata (Split) é aquela que quem quer atingir o primeiro lugar terá que ganhar.
“É necessário unir esse puzzle em que a equipa está mergulhada”
Pelo que já viu e conhece do Benfica, o que acha do potencial da equipa? O Benfica é uma equipa individualmente muito forte. É necessário unir esse puzzle em que a equipa está mergulhada, devido à entrada de jogadores estrangeiros. Tem que se ir juntando as peças como quem faz um quebra-cabeças. Tendo uma base de 3 ou 4 jogadores já definidos, os restantes jogadores vão automaticamente entrando e aí a equipa fica mais forte colectivamente fazendo um ritmo de jogo veloz durante todos os 40 minutos.
Pensa que equipa da Luz ainda pode chegar ao título?Lógico, tem que se ter esperança. Se chegou até aqui, vai deixar de acreditar?
Tem que ter ousadia. Na minha opinião é isso, que falta a Portugal: ser ousado. Não pode entrar num jogo com medo, tem que acreditar, ir para a frente.
Eu assisti ao vídeo do jogo Portugal-Espanha, em que Portugal estava a ganhar 3-2, após estar a perder por 2-0. A selecção tinha que ter procurado o quarto golo, mas não o fez, foi recuando automaticamente aos poucos. Tem que se ir para a frente, acreditar, não se pode duvidar.
Temos bons meninos, é só trabalhar com eles, acreditar neles.
Muita coisa se fala da boca para fora. Há poucos treinadores da 1ª Divisão que acompanham as camadas mais jovens, que vão lá ajudar, falar com o treinador. Estar com os jogadores e ir para o campo com eles. Falta um pouco desse espírito, de acreditar no seu potencial, de transmitir confiança.
Como é que vai funcionar a dupla Zego/Alípio?Já estou acostumado a funcionar assim, faço isso há 18 anos. Tem é que existir uma só palavra, para ser mais fácil para os jogadores, que até se vão sentir melhor e jogar melhor com um só discurso vindo dos treinadores.
Lá em Itália, quando estou no banco, por exemplo, tenho sempre uma pessoa lá em cima, a dar-me indicações pois de cima vê-se muito melhor. Já adoptei esta técnica há 15 anos. Ele dá-me informações que no banco não consigo ver porque estamos ao mesmo nível da quadra, tem que se prestar atenção nas substituições, faltas... são tantos detalhes que aparecem no jogo.
“É uma equipa muito boa, todos me receberam muito bem”Nos poucos contactos que teve com a equipa. Como foi recebido?Alguns meninos já conhecia, pois até tiveram comigo em Matosinhos, no Freixieiro, onde se identificaram com o que pretendemos implementar porque o Joaquim seguiu a linha que nós traçámos.
É uma equipa muito boa, todos me receberam muito bem.
II Parte – Que futuro e que funções?“É claro que gostaria de estar mais tempo aqui, mas de momento é o que se pode fazer”Até à UEFA Futsal Cup, estará com um pé em Portugal e outro em Itália. A que se deve este saltitar entre os dois países?Tenho uma equipa em Itália (Verona) que precisa de mim. Por agora terá que ser assim. Ficarei 4 a 5 dias cá, depois dia 29 retorno para ficar mais 7 a 10 dias, o máximo possível até a competição, para regressar de novo para o Verona.
Tenho que olhar por aquela garotada, não os posso abandonar. É claro que gostaria de estar mais tempo aqui, mas de momento é o que se pode fazer.
No final da época virá definitivamente?Ainda tenho que conversar com os dirigentes mas essa possibilidade tem fortes hipóteses de se realizar.
Na Itália não tenho possibilidade de formar meninos, pois a Federação Italiana de Futebol não organiza campeonatos para as camadas jovens, o que me deixa um pouco sem bases para formar os reforços que a minha equipa necessita.
Gostaria muito de trabalhar na próxima época, desde o princípio, no Benfica.
“Tem que haver um seguimento entre os diferentes escalões”Virá exercer que função?O que estou a fazer agora, ajudar o Alípio. De momento estou treinando mais para ele observar mas depois estaremos os dois no campo.
E claro estarei também na formação, trabalharei com todas as categorias e inclusive com outros desportistas de outros clubes que também podemos ajudar.
O objectivo é levar 1/2 jogadores por ano para a equipa principal. É importante termos meninos formados nas escolas do clube.
Queremos praticar o mesmo modelo de jogo desde as camadas jovens até a equipa A, de modo a que os jogadores não tenham dificuldade em subir à equipa principal. Tem que haver um seguimento entre os diferentes escalões.
Pretende organizar toda a formação do Benfica e colocá-la ao nível da dimensão do clube?Exactamente, esse será um dos objectivos.
É importante ganhar em cima, pois a equipa principal é vista como um espelho que é reflectida nos outros escalões, com alegria, motivação.
Há muita coisa que ainda pode ser feita para ajudar a desenvolver o trabalho das camadas mais jovens, pois eles serão os jogadores de amanhã. Daí irmos apostar na formação, mas sem descuidar a equipa principal.
Como pretende fazê-lo?Todos os escalões terão horários distintos, para ser mais fácil fazer um correcto acompanhamento. Continuarei a ajudar também o Alípio de modo a melhorarmos o rendimento da equipa.
É fundamental que uma equipa mantenha a mesma base por muitos anos. O que esperamos fazer é apostar num grupo de rapazes e acompanhá-los durante algum tempo. Seremos muito rigorosos na formação pois esta é para dar frutos a longo prazo.
A formação sempre foi a “menina do seus olhos”. Porquê?Sempre me deu resultado. Na Espanha a equipa que foi campeã mundial tinha quase 80% dos meninos que começaram comigo. Aposto muito na formação porque os miúdos quando têm 13 anos, têm muito tempo e estão mais receptivos para aprender.
Quanto mais cedo se começar com eles, mais facilmente corrigem se erros cruciais e mais facilmente apreendem o que tenho para lhes ensinar, pois nessa idade estão quase todos loucos para fazer uma peladinha. Todos estão prontos para aprender pois querem-se tornar “craques”.
“O que eu gosto mesmo de fazer é estar na quadra com a garotada”Quem fala do Zego, diz que seria capaz de estar dentro do pavilhão 24 horas a treinar miúdos, isto é verdade?É verdade. Não digo 24 horas porque a gente tem que dormir e comer (risos).
Não me importaria de treinar miúdos de manhã à noite, e quem me conhece sabe que é verdade. O que eu gosto mesmo de fazer é estar na quadra com a “garotada”.
O Zego é considerado o pai do 4:0. Como surgiu essa “iluminação”?Não dei esse nome. Acontece o seguinte, quando eu parei de jogar e comecei a treinar, comecei a orientar uma equipa de juvenis, modesta. Para eu vencer as melhores equipas, tinha que ter mais posse de bola. Para isso foi necessário recuar o pivot e começar a movimentar com os 4 jogadores, para ter mais posse de bola e jogar nas costas do adversário. Aí começou essa coisa, mas eu não excluo nada, passando o meio-campo, tanto pode ser 3:1 como 2:2.
O que sentiu quando esse modelo de jogo foi adoptado mundialmente pela generalidade das equipas?Tem gente que gosta destas coisas de dizer que o fulano tal inventou, é o inventor do 4:0, não é bem assim. Quando eu cheguei a Espanha, houve uma pessoa que falou uma coisa acertada que até hoje me recordo. Na altura discutia-se muito se o Zego era o pai do 4:0 e ele disse: “o Zego está aqui para ensinar futebol de salão, com toda a simplicidade, não para ensinar o modelo de jogo 4:0”. E é assim até hoje.
“Não escondo que gosto muito de jogar em 4:0”
É verdade que o Zego só sai em 4:0?Não. Posso sair umas vezes em 4:0, outras em 2:2 quando o adversário já pegou nalguma coisa.
O jogo do Zego é basicamente muita movimentação, um jogador sai e outro ocupará o seu lugar. Então o jogo fica bonito, interessante, fica veloz e a equipa fica mais forte pois fica difícil marcar um jogador.
Você tem também de trabalhar com o guarda-redes, para que este jogue com os pés. O guarda-redes, um pouco adiantado, pode ajudar muito no movimento ofensivo.
Não se pode deixar de pressionar o adversário, de estar em cima da área contrária para conseguir “roubar” a bola ao guarda-redes, pois aí estamos mais perto de fazer golo.
É mais ou menos assim que eu gosto de jogar, mas não escondo que gosto muito de jogar em 4:0.
Uma equipa que tem um jogador como o Lukaian, não é obrigado a jogar em 3:1?O Lukaian pode mudar um pouquinho, porque a bola num campo 20x40 demora para chegar nele. Tem muito tempo para o defesa se antecipar. No Brasil, a quadra tem 14x24 é diferente.
Aqui, se ele estiver esperando a bola, ela vai aparecer pouco nele. Daí que ele tenha que mudar o seu modo de jogar, pois tem qualidade para o fazer. É isso que ele tem que compreender, aceitar. É uma coisa que não é imposta pelo treinador, mas sim pelo tamanho da quadra, numa quadra grande não tem jeito, mas é claro que não pode deixar de “cair” na posição de pivot quando tiver oportunidade. Ele tem velocidade para o fazer.
III Parte – As suas passagens por Portugal e por outros países“Fiquei muito feliz quando o Freixieiro foi campeão”Como foi a sua passagem pelo Freixieiro?Gostei muito de estar com o Mário e com o Joaquim Brito. De todos os treinadores com quem já trabalhei, o Joaquim foi aquele que mais à vontade me deixou para fazer o que quisesse.
Foi uma passagem muito interessante, apesar de não ter podido fazer tudo o que queria. Principalmente a nível da formação de menores, precisava de estar lá dentro. Acho que um clube não pode ter duas linhas de jogo, uma linha, com os juniores, jogar de uma maneira, e no principal jogar de outra. Assim fica difícil para os jogadores quando sobem. Tem que haver seguimento.
Gostava muito das pessoas do Freixieiro, fiquei muito feliz quando foram campeões. O Freixieiro tem todas as possibilidades de ter as melhores escolas de formação, só lhe falta contratar alguém que ajude as crianças, para que estas possam futuramente ingressar na equipa principal.
Porque saiu para o Miramar, quando se diz que até foi ganhar menos?Tive mais hipóteses de trabalhar na formação. É verdade que recebia menos do que no Freixieiro, mas no Miramar tinha possibilidade de estar directamente com os meninos de todos os escalões.
Como correu o trabalho no Miramar? Trabalhei mais na formação. Fiz o que acho que faz falta, o que Espanha já se faz há algum tempo. Por exemplo, Espanha tem 4 treinadores na selecção que começaram comigo quando eram treinadores de infantis. Outro está em Itália, no Prato, no clube campeão.
Aqui em Portugal, os treinadores ainda não têm o hábito de aprender com os escalões mais novos. Tive essa oportunidade no Miramar só que foi a pior época do José (Manuel Leite, actual Director-Desportivo do Benfica) no clube, por falta de verbas, e assim é difícil sustentar uma equipa no topo.
“O Miramar passou por um momento difícil, não tinha condições económicas”Porque saiu do Miramar?O Miramar passou por um momento difícil. Chegou a um momento que não dava para ter 3 brasileiros, o clube não tinha condição económica.
Cheguei ao Miramar na altura errada, quando os problemas financeiros eram muitos. Daí ter decidido ir para Itália.
Eu sei que quando a gente faz alguma coisa de especial num lugar o pessoal chama, senão nos chamam é porque ou não se lembraram de você, ou porque não gostaram do seu trabalho. Mas agora tenho essa possibilidade de mostrar novamente o meu trabalho em Portugal, aqui no Benfica.
As mudanças constantes de clube do Zego significam que não gosta de estar muito tempo no mesmo sítio ou que nunca lhe deram liberdade para fazer o que gosta?Só em Portugal é que eu não estive muito tempo no mesmo clube. Em Espanha estive 4 anos tanto no Jaen como no Toledo. Mas isso deve-se a falta de oportunidade. Eu quando vim para Portugal, não vim em busca de dinheiro, fama, vim para trabalhar com meninos portugueses, e isso não aconteceu. Se tivesse tido oportunidade estou certo que estaria no Freixieiro até agora.
O Benfica pode ser o clube ideal para o prender durante muitos anos?Gostaria de estar muitos anos no Benfica. Eu acho que quanto mais tempo você está num sítio, melhor. Mas não ponho de lado a hipótese de vez em quando ajudar alguém que precise. Sair uma semaninha, dez dias.
Quero fazer aquilo que comecei a fazer em Espanha e que não pude concluir.
Já trabalhou no Brasil, Espanha, Itália e Portugal. Quais as principais diferenças entre estes países?Todos os países que antigamente pertenciam à Fifusa, têm categorias menores. Todos os países que não pertenciam à Fifusa, como é o caso da Itália, Inglaterra, Alemanha, só têm campeonatos de seniores.
Era uma coisa que eu gostaria que me explicassem porque é que eu como amante do meu desporto, não posso ter o meu próprio dirigente do meu desporto, e tenho que ter outro dirigente de outro desporto. Há muitas pessoas, que quando questiono, dizem que não está correcto, pois sabem que eu tenho um pouco de razão.
Assim já era possível haver meninos a jogar futsal em todo o mundo, e se depois quisessem ir para o futebol de 11, força, pois é uma opção que tem que partir deles. Agora cortar essas hipóteses como acontece em Itália é que fazem uma pessoa como eu ficar indignado.
Já teve contacto com os play-offs, em Espanha, acha que estes serão benéficos para a modalidade?O primeiro título que ganhei pela FIFA, foi com muitos meninos que estão hoje na selecção. Classificámo-nos em sexto lugar, foi uma fase um pouco atribulada. Logicamente se fosse um campeonato sem play-offs não conseguiríamos o título. Eu sempre me recordo disso.
Depois quando já éramos a melhor equipa aí o play-off, já nos prejudicava. Nem sempre quem se classificava em primeiro era o campeão.
Mas com certeza que os play-offs contribuirão para uma melhoria da modalidade, esta dará o salto. Os pavilhões ficarão cheios, haverá mais cobertura televisiva. E a final será como acontece em Espanha: o pavilhão cheio, um espectáculo bonito.
“O futsal italiano não existe”Quais as principais diferenças que encontrou entre o futsal italiano e o português?O futsal italiano não existe. Pois cada equipa tem 8/9 italo-brasileiros. Em Itália, há muitos patrocínios, há muito dinheiro em jogo, o que contribuiu para uma melhoria do futsal naquele país.
É um desporto para estrangeiros, não há meninos italianos, há não só brasileiros a jogar como também argentinos, croatas. Tem equipas que vão buscar 7 brasileiros de uma mesma equipa ao Brasil, nacionalizam-nos e estão prontos para jogar.
Gostaria de ver meninos italianos jogando. Não uma selecção só com apenas um jogador italiano e o resto italo-brasileiros.
IV Parte – Memórias, referências e gostos pessoais1. Enquanto jogador/treinador que jogo de futsal lhe ficou na memória?Tenho agradáveis memórias de muitos jogos. Para te ser franco cada vez que me lembro dos jogos que joguei/orientei vem-me à memória sempre um pormenor novo.
Por exemplo, quando entrei no campo para comemorar, após ter sido campeão espanhol de cegos. Quando as meninas da Espanha foram campeãs, o que me deixo muito contente, fui ter com elas...
Quando joguei pela primeira vez pela selecção brasileira. O primeiro título que ganhei enquanto jogador. Foi uma partida que opôs Corinthians-Palmeiras, e o qual tive o privilégio de marcar o golo da vitória.
2. Quais os seus jogadores de referência?Na actualidade, o Manoel Tobias, porque faz tudo bem, defende bem, apoia bem, chuta bem com os dois pés.
Em Portugal, o Arnaldo, o Pedro Costa, acho que o Ricardinho tem um grande futuro, também gosto muito do Formiga, do Ivan e do antigo pessoal do Miramar.
Em Itália, de um jogador italo-brasileiro, o Foglia, que foi considerado o melhor jogador do Mundo em 2003.
Desde que comecei a me interessar por futebol de salão, em 1959, que nunca vi um jogador como o Pélé do futsal, o nome dele era Serginho. Fazia coisas que você não acreditava, que ponha você a pensar como é que é possível ele ter feito aquilo. Fazia desse jogo uma coisa bonita, maravilhosa. Pouca gente o conhece, pois o futebol de salão, na altura, só existia na América do Sul.
3. Quais são para si os treinadores de referência?Eu gosto muito desses novos treinadores que estão aparecendo agora. A Espanha está agora com um bom nível de treinadores. Portugal também tem um bom nível de treinadores. Mas o treinador português precisa de ter um maior contacto com as categorias base, porque aí é que ele vai aprender muito.
Quando parei de jogar e comecei a treinar, comecei com meninos, para aprender. Quando você vem directamente para uma equipa grande perde um bocadinho daquele base. Treinar é mais ou menos como pegar num diamante em bruto e fazer uma pedra preciosa. De um jogador regular fazer um bom jogador, de um mauzinho fazer um regular, de um bom fazer um muito bom, e de um muito bom tornar num craque.
Quem decide os jogos muitas vezes não são os treinadores, nós podemos apenas trabalhar para que os meninos ali dentro decidam. Pois, afinal de contas, são eles que vão dizer que se você é ou não um bom treinador.
Qual o seu tipo de música preferida?Folclórica de todo o lugar do mundo. O Fado, aqui, é das coisas mais bonitas que vi na minha vida. Mas o fado tem que ser visto aqui em Lisboa, em Alfama. Do tango, que desde o momento que vi ao vivo passei a adorar. No fundo de toda a música folclórica do mundo.
Só que a era moderna veio mudar isso tudo, temos que ouvir, ver o que os outros querem que a gente veja, ouça.
Qual o seu filme preferido?Eu vi dois filmes da República do Irão e achei excelentes. Gosto muito também da comédia portuguesa, do Vasco Santana, gostava muito dele.
Já enjoei dos filmes americanos, só se tiverem um pouco mais de história, de conteúdo. Vou sempre que possível ver um filme de um país desconhecido, da Europa do Leste, português, espanhol. Gosto também de teatro.
Qual o seu livro preferido? Gosto muito de escritores sul-americanos. Como o Jorge Amado. Gosto também do José Saramago.
Qual a sua comida preferida?A comida que cada país tem de melhor. Não adianta querer comer bananas na Rússia, por que com certeza virão congeladas.
Em Portugal, do bacalhau, gosto muito da fruta de Inverno, das castanhas, das uvas. Gosto muito da comida típica portuguesa.
O Zego não é tido como um homem materialista. Quando troca de clube fá-lo por questões desportivas ou também lhe preocupa as questões económicas?No caso do Miramar não havia mais condição. No caso do Freixieiro fiquei esperando dois anos para que as coisas mudassem. Eu só queria treinar com as camadas jovens. Se não tiver meninos para mim não dá.
Até que ponto a sua entrega ao futsal influencia o seu estado civil?
Sou solteiro...mas não sei se por muito tempo.
Não nego que sinto falta de alguém, ainda mais agora que a idade já vai pesando. Mas quem iria aguentar tantas mudanças de países. Quem iria comigo para a Bolívia, dormir num lugar sem água canalizada, ter que tomar banho de cachoeira. É uma coisa difícil para outra pessoa.
Mas ainda existe a possibilidade, nunca é tarde.
Que mensagem deixaria aos pequenos leitores do FutsalPortugal que se estão agora a iniciar na modalidade?Primeiro que quando o treinador não vos deixa jogar muito tempo e insistir mais na preparação física, dizer-lhe: “Oh Mister, não dá para jogar à bola? Nós fazemos 10 minutos de preparo físico, mas não nos obrigue a subir e descer escadas, correr”.
Nunca devem descuidar os estudos, mas ao chegarem ao final da tarde tem o direito de ir praticar o desporto que escolheram.
Nunca se podem esquecer que perder não é nenhuma vergonha, calha a todos. Claro que a vitória sabe sempre melhor, mas não devem chorar por causa de uma derrota.